Investigação do Instituto de Telecomunicações da UA
Acesso à internet via satélite no cume dos Himalaias ou no meio do oceano com a
mesma qualidade e preço do acesso através da fibra ótica? Sim, é possível! O
segredo está no processador fotónico desenvolvido na Universidade de Aveiro (UA) a
pensar na próxima geração de satélites de comunicação. Levar a internet à metade
da população mundial excluída da rede global é o grande objetivo do trabalho
publicado na revista Nature Communications.
“O trabalho apresentado na Nature Communications foi a primeira demonstração
em tempo real de um processador fotónico capaz de processar quatro sinais de
entrada, cada um com um débito de 1 gigabit por segundo e uma frequência de 28
gigahertz, inserido num sistema baseado em satélites de comunicação para receção
de dados”, congratulam-se Vanessa Duarte, Miguel Drummond, João Prata e Rogério
Nogueira, investigadores no Instituto de Telecomunicações na UA.
Fruto de um enorme trabalho de equipa a nível europeu, e publicado numa das mais
prestigiantes revistas científicas a nível mundial, o trabalho mostra que o
processador é escalável para muitos mais sinais, demonstrando assim que “as
tecnologias fotónicas podem finalmente elevar a qualidade e reduzir os custos de
serviços de satélite para os mesmos níveis da fibra ótica”.
O satélite de comunicação recebe vários sinais de alto débito provenientes de
diferentes partes da Terra, pelo que é necessário um processador para separá-los,
processá-los e enviá-los de volta ao planeta. Se atualmente os processadores
utilizam sinais de radiofrequência (RF) e a tecnologia digital para realizar essa
missão, motivo pelo qual o acesso à internet via satélite é caro e com uma qualidade
bem abaixo da do acesso através da fibra ótica, o processador fotónico da UA
promete revolucionar o acesso à rede global.
“Como poucos satélites servem milhares de milhões de pessoas é necessária uma
capacidade muito mais elevada do que a atual. A chave para desbloquear tal capacidade reside em aplicar um processador potente como parte nuclear do
satélite, algo que as tecnologias RF e digital atualmente não conseguem obter”,
explica Vanessa Duarte, responsável pela integração do processador fotónico num
chip de silício.
Levar a Internet a todo o planeta
O processador nascido para ser aplicado na nova geração de satélites de
telecomunicações, para além de ter um peso, custo e consumo energético muito
mais reduzido do que os atuais processadores, tem a capacidade de aumentar a
capacidade de transmissão de dados e, muito importante, dar ao satélite uma
cobertura flexível.
“O lançamento de satélites de nova geração permitirá colmatar a lacuna digital
existente e fazer chegar a Internet a sítios rurais e remotos onde ela não existe”,
explica Miguel Drummond. Para além disso, aponta o investigador, “esta inovação
abre ainda caminho para a introdução de tecnologias emergentes em serviços de
comunicação via satélite, nomeadamente serviços 5G e IoT”.
O trabalho realizado por Vanessa Duarte enquadrou-se no âmbito do Programa
Doutoral em Engenharia Física no Instituto de Telecomunicações, sob orientação
científica de Rogério Nogueira e Miguel Drummond, e no IHP - Leibniz-Institut für
innovative Mikroelektronik (Alemanha), sob orientação científica de Lars
Zimmermann. Toda a investigação decorreu no âmbito do projeto europeu BEACON
onde participaram companhias como a Airbus Defence and Space, Gooch & Housego
e aXenic. O princípio de operação do projeto começou a ser desenvolvido em 2010
no âmbito da tese de doutoramento de Miguel Drummond, supervisionada por
Rogério Nogueira.
O artigo agora publicado na Nature Communications surge na sequência do estudo
anterior de um processador fotónico para aplicação na nova geração de satélites de
comunicação, vencedor do prémio de inovação Altice International Innovation
Award 2018, e do prémio Born from Knowledge Awards, entregue pela Agência
Nacional de Inovação.
Tecnologia fotónica da Universidade de Aveiro permite Internet (verdadeiramente) global
Tecnologia fotónica da Universidade de Aveiro permite Internet (verdadeiramente) global
Post A Comment:
0 comments: