Sustentabilidade, Competitividade, Transição Energética e Digital marcaram o 7º Fórum Empresarial do Distrito de Aveiro, que contou com a participação do Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital Pedro Siza Vieira.
“Revitalizar a Indústria, Relançar a Economia” foi o mote que levou alguns dos principais nomes do tecido industrial e empresarial português ao 7º Fórum Empresarial do Distrito de Aveiro, promovido esta sexta-feira, dia 25 de junho, pela AIDA – Câmara de Comércio e Indústria de Aveiro, num debate que contou com a presença do Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira e a Secretária de Estado do Ambiente e da Indústria, Inês Costa.
O encontro bianual que este ano se realizou excecionalmente online por motivos relacionados com a pandemia Covid19, foi dividido em dois painéis - da parte da manhã, “Desafios e Oportunidades da Indústria Sustentável” e da parte da tarde, “Por uma Indústria Competitiva e com valor”.
No arranque da sessão de abertura, o Presidente da Câmara Municipal de Sever do Vouga, António Coutinho, deu as boas vindas aos participantes e agradeceu a escolha da “terra do mirtilo” para acolher o debate de transmissão online.
Há já vários anos que a Vila de Sever do Vouga tem assistido a um desenvolvimento industrial significativo, mas que permanece cintado pela falta de investimento no acesso rápido à A25. Para Fernando Castro, Presidente da Direção da AIDA CCI, esta falta de acesso é um pequeno exemplo dos grandes problemas responsáveis pela degradada situação económica e ambiental do país, um dos assuntos que marcou o primeiro painel, moderado por Pedro Janeiro, Líder da prática de Saúde e Administração Pública em Estratégia e Consultoria na Accenture.
“A palavra sustentabilidade (...) implica necessariamente uma perspetiva de longo prazo” afirmou a Secretária de Estado do Ambiente e da Indústria, acrescentando que as empresas devem encarar os desafios da sustentabilidade “como uma força da sua própria transformação, em vez de serem apenas arrastadas por ela”.
Uma ideia que na prática, para o Vice-presidente da PRIO SGPS, Pedro Morais Leitão, depende da conciliação entre a sustentabilidade ambiental e económica, além da dificuldade de manter políticas de longo prazo em ciclos eleitorais de 4 anos.
Nos dois debates do primeiro painel, moderados por Pedro Janeiro da Accenture – e por Abílio Ferreira – Ex-jornalista do Semanário, da Visão e do Expresso – questões como a transição digital, a transição energética e a descarbonização assumiram naturalmente o protagonismo.
O crescimento rápido da população, de acordo com João Wengorovius Meneses, Secretário geral da BCSD Portugal, tem colocado uma pressão cada vez maior sobre a gestão de recursos. “O modelo atual é insustentável, assenta em recursos naturais essencialmente finitos”, concluiu.
A respeito da transição energética, Luís Mira Amaral, Presidente dos Conselhos da Indústria e Energia da CIP, constatou que “a pandemia fez mais pela digitalização nas empresas que os recursos que tínhamos em anos passados”, defendendo ser necessário “transformar as organizações para as preparar para o digital”. Um ponto que, na sua opinião, não mereceu a atenção devida no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) apresentado pelo governo português. “O PRR tem um caráter demasiado estatizante, e pouco virado para a economia privada”, concluiu o Presidente da CIP, António Saraiva, defendendo a sua convicção de que o Estado português “deveria preocupar-se de forma mais realista com as necessidades das empresas portuguesas”.
Ainda dentro desta temática, João Paulo Domingos, Sócio Responsável pelos setores de Industrial Products da Deloitte Portugal, realçou também a necessidade de apostar em sinergias: não só as ligações das empresas entre si, como também entre as empresas e o Sistema Científico e Tecnológico – ligações úteis ao melhor aproveitamento dos fundos de investimento nacionais e, também, à melhor formação dos recursos humanos, como acrescentou Cristina Bóia, Administradora da Extrusal S.A.
“É impossível responder ao mercado com velocidade e competitividade sem ter uma política aberta a trabalhar com parceiros”, referiu ainda a este respeito Jorge Portugal, Diretor-Geral da Cotec Portugal.
Para Fátima Alves, Presidente dos Conselhos de Administração do Porto de Aveiro e do Porto da Figueira da Foz, outro fator importante no caminho da inovação e sustentabilidade é o chamado “caminhar em conjunto” – na sua perspetiva, “não faz sentido que as empresas estejam a trabalhar para a sustentabilidade ambiental e económica, se o porto não está a trabalhar” também.
De volta à reflexão sobre transição energética e à adoção de práticas da economia circular, destacou-se a grande oportunidade que Portugal tem em se afirmar, no contexto internacional, como líder em Bio Economia de Base Florestal.
Apesar de reconhecer aqui grande potencial, particularmente na investigação, Carlos Pascoal Neto, Diretor Geral na RAIZ - Instituto de Investigação da Floresta e Papel/The Navigator Company, apelou a mais atenção no ordenamento de áreas de produção e de preservação. Portugal “devia tratar melhor as florestas e não trata”, lamentou.
Durante a tarde, o segundo painel “Por uma Indústria Competitiva e com valor” contou com debates moderados por Ivan Silva – Diretor do Jornal Diário de Aveiro – e por Sofia Marta, Vice-Presidente na Accenture Portugal, responsável pela área da Saúde e Administração Pública.
No arranque, foi dado o palco a Joaquim Sarmento Professor Auxiliar com Agregação no ISEG, apontou que “nos últimos 20 anos, a economia Portuguesa estagnou”, sublinhando ainda que “não foi por falta de recursos financeiros”. Para o professor, barreiras como burocracia, lentidão de justiça, falta de mão de obra qualificada em alguns setores, a descapitalização das empresas portuguesas, o seu endividamento e pouca internacionalização são alguns dos fatores responsáveis por essa situação.
Nesta linha, Susana Sargento, docente e investigadora no Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro, destacou esta instituição de ensino como um exemplo nas iniciativas de mão dada às empresas, e apontou uma ameaça iminente: “ou os salários em Portugal começam a ser realmente convidativos ou começa a ser complicado competir com os outros países se as pessoas podem estar em Portugal, mas a trabalhar para fora.”
Para aclarar um pouco mais a questão dos fundos de investimento a que Portugal terá acesso nos próximos tempos, foi dada a palavra a Fernando Alfaiate, Presidente da Estrutura de Missão Recuperar Portugal. Para o orador, o Plano de Recuperação e Resiliência não pode ser visto de forma isolada, mas sim no quadro conjunto de outros apoios que irão beneficiar Portugal durante os próximos anos – como é o caso dos quase 10 mil milhões de euros ainda por receber do programa Compete 2020.
Apesar disto, para Jorge Mota, CEO da Rittal Portugal, é necessário também que o governo garanta aos empresários “estabilidade e previsibilidade, porque é aquilo que todos eles querem para poderem investir”.
Um exemplo pertinente, ainda no tema dos investimentos, foi proposto por António Oliveira, Administrador da OLI - Sistemas Sanitários S.A. – a aposta em departamentos de investigação internos, capazes de trabalhar “com menos pressão do negócio e mais espaço para a criação de valor”.
“Espero que a aposta que foi feita no empreendedorismo na última década não tenha sido apenas uma moda e que contribua para o renascer da economia”, alertou Celso Martinho, Criador do Sapo e diretor da Cloudflare, ainda a respeito da importância do investimento na inovação.
A recapitalização das empresas, uma das necessidades apontadas pelo professor Sarmento, foi recuperada nas intervenções de Abílio Borges, CEO da ATENA - Automação Industrial, Lda, e de Carlos Tavares, Presidente do BEM (Banco Montepio Empresas). Para o banqueiro, aplicar os recursos financeiros no programa de recapitalização das empresas, sobretudo as PME, “é melhor que recapitalizar os bancos outra vez.”
O encerramento do 7º Fórum Empresarial do Distrito de Aveiro ficou a cargo do Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, que considerou os temas discutidos ao longo da sessão muito relevantes para o futuro coletivo. De acordo com o ministro, a economia portuguesa tem conhecido ganhos de quota “muito significativos” nos mercados internacionais. Um crescimento que só será assegurado se “não nos orientarmos apenas para o mercado interno, o mercado pequeno de 10 milhões de habitantes, com um poder de compra relativamente reduzido, mas se passarmos a olhar para o resto do mercado único europeu, e do mundo, como o mercado natural das nossas empresas.”
A respeito dos planos de investimento, o Ministro defendeu a atuação do governo, ao realçar que os “30% de verbas a fundo perdido” destinados às empresas portuguesas representam “a maior percentagem de verbas de fundos de planos de recuperação nacionais conhecidos, até ao momento, que qualquer país destina para apoios diretos ao seu tecido empresarial”.
Este 7º Fórum contou com mais de 500 inscrições, o que mostra bem a relevância destes encontros e a necessidade dos empresários refletirem sobre as novas políticas vigentes, os novos desafios, tecnologias e a sua integração no meio empresarial.
Ao longo dos últimos 35 anos de existência, e agora com a valência de Câmara de Comércio e Indústria, a AIDA tem contribuído para aumentar a competitividade das mais 800 associadas do tecido industrial de Aveiro.
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