Desde uma IA mais culturalmente consciente à descolagem da FemTech, passando pela evolução da educação, 2024 será um ano repleto de inovações que vão democratizar o acesso à tecnologia
Os empregos têm vindo a mudar, surgiram novas profissões e as pessoas adaptaram-se. As tecnologias de cloud computing, o Machine Learning e a IA generativa tornaram-se mais acessíveis, e com impacto em quase todos os aspetos da vida, desde a escrita de e-mails, ao desenvolvimento de software, até ao diagnóstico precoce do cancro.
Werner Vogels, VP & CTO na Amazon.com indica e reflete sobre quatro previsões para o próximo ano:
1 - A IA generativa torna-se culturalmente consciente
Os modelos de linguagem de grande dimensão (LLM) desenvolvidos com dados culturalmente diversos vão permitir uma melhor compreensão da experiência humana e dos desafios sociais mais complexos. Esta fluência cultural promete tornar a IA generativa mais acessível aos utilizadores de todo o mundo.
A cultura influencia tudo e fornece regras e orientações que informam e regem os comportamentos e crenças - e este `contrato´ muda consoante o local, as pessoas e as suas relações. Como seres humanos, o Homem habitua-se a trabalhar com culturas diferentes e, como tal, contextualiza informações, sintetiza-as, ajusta a sua compreensão de modo a responder de forma adequada. Então, porque esperar algo diferente das tecnologias que utilizadas nos dia a dia? Nos próximos anos, a cultura desempenhará um papel crucial na forma como as tecnologias são concebidas, implementadas e consumidas e os efeitos serão mais evidentes na IA generativa. Tal como os seres humanos aprendem com conversas, debates e troca de ideias, os LLM carecem de oportunidades semelhantes para expandir as suas perspetivas e compreender a cultura.
2 - A FemTech finalmente levanta voo
Os cuidados de saúde femininos atingem um ponto de inflexão à medida que o investimento em FemTech aumenta: os cuidados passam a ser híbridos e uma abundância de dados permite melhorar os diagnósticos e resultados das doentes. A ascensão da FemTech (cuidados de saúde direcionados para as mulheres) não só beneficiará todas as mulheres, como também beneficiará todo o sistema de saúde.
Os cuidados de saúde femininos não são um nicho de mercado. Só nos Estados Unidos da América (EUA), as mulheres gastam mais de 500 mil milhões de dólares por ano em cuidados de saúde. Representam 50% da população e são responsáveis por 80% das decisões de consumo de cuidados de saúde. No entanto, a base da medicina moderna tem sido, por defeito, masculina. Só com a Lei de Revitalização dos NIH de 1993 é que as mulheres nos EUA foram incluídas na investigação clínica. Necessidades comuns, como os cuidados menstruais e o tratamento da menopausa, têm sido historicamente tratadas como tabu e, devido ao facto de as mulheres terem sido excluídas dos ensaios e da investigação, os respetivos resultados têm sido normalmente piores do que os dos homens. Em média, as mulheres são diagnosticadas mais tarde do que os homens para muitas doenças, sendo que têm 50% mais probabilidades de serem mal diagnosticadas após um ataque cardíaco.
À medida que o estigma se dissipa em torno das necessidades de saúde das mulheres e que mais financiamento flui para este setor, continuar-se-á a assistir a empresas FemTech a liderarem este processo de mudança. Ao mesmo tempo, o acesso das mulheres aos serviços de saúde aumentará graças aos modelos de cuidados híbridos que tiram partido das plataformas médicas online, da disponibilidade de dispositivos de diagnóstico de baixo custo e do acesso a profissionais médicos a pedido.
3 - Os assistentes de IA redefinem a produtividade dos programadores
Os assistentes de IA vão evoluir e passar de geradores de código básicos a professores e colaboradores incansáveis que prestam apoio ao longo do ciclo de vida do desenvolvimento de software. Eles vão explicar sistemas complexos numa linguagem simples, sugerir melhorias específicas e assumir tarefas repetitivas, permitindo que os programadores se concentrem nas partes do seu trabalho que têm mais impacto.
Os assistentes de IA que estão a chegar, não só vão compreender e escrever código, como também serão colaboradores e professores incansáveis.
Estes assistentes serão altamente personalizáveis nível individual, de equipa ou de empresa. Serão capazes de explicar o interior de sistemas complexos, em termos simples, o que os torna ferramentas educativas de valor inestimável. Os programadores juniores utilizá-los-ão para se familiarizarem rapidamente com infraestruturas desconhecidas. Os engenheiros seniores para compreender novos projetos ou bases de código e começar a fazer contribuições significativas. Como resultado, haverá mais trabalho do que nunca. Sem a sobrecarga do trabalho pesado indiferenciado de tarefas, os programadores podem concentrar-se no trabalho criativo que impulsiona a inovação.
Nos próximos anos, as equipas de engenharia tornar-se-ão mais produtivas, desenvolverão sistemas de maior qualidade e encurtarão os ciclos de vida de lançamento de software, à medida que os assistentes de IA passam de novidade a necessidade em toda a indústria de software.
4 - A educação evolui para acompanhar a rápida inovação tecnológica
O ensino superior, por si só, não consegue acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas. Surgirão programas de formação baseados nas competências da indústria que se assemelharão mais aos percursos dos profissionais especializados. Esta mudança para a aprendizagem contínua beneficiará tanto os indivíduos como as empresas.
A educação é uma área radicalmente diferente no mundo inteiro, mas é amplamente aceite que, para contratar as melhores pessoas e para conseguir o melhor emprego, um diploma universitário é fundamental. Isto tem sido verdade no ramo da tecnologia. Mas a começa-se a ver este modelo a desmoronar-se, tanto para os indivíduos como para as empresas. Para os estudantes, os custos estão a aumentar e muitos questionam o valor de um diploma universitário tradicional quando existe formação prática disponível. Para as empresas, as novas contratações continuam a exigir formação no local de trabalho. À medida que cada vez mais indústrias exigem especialização dos seus empregados, o fosso entre o que é ensinado na escola e o que os empregadores precisam está a aumentar.
Há anos que se observam vislumbres desta mudança em curso. Os cursos de aprendizagem continuaram a crescer em popularidade uma vez que a educação especializada pode ser fornecida pelo empregador e os formandos podem ser remunerados à medida que aprendem. Mas agora, as próprias empresas estão a começar a investir seriamente na educação baseada em competências em grande escala, de forma contínua e no local de trabalho. Nada disto significa que os cursos tradicionais estão a desaparecer. Vão continuar a existir áreas na tecnologia em que este tipo de aprendizagem académica é fundamental, mas existirão muitos setores em que o impacto da tecnologia ultrapassa os sistemas educativos tradicionais. Para satisfazer as exigências das empresas, surgirá uma nova era de oportunidades educativas orientadas para a indústria que não podem ser ignoradas.
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